A revolução digital trouxe mudanças profundas na forma como consumimos informação. Se, por um lado, jornalistas desempenham um papel essencial na construção da verdade e na prestação de serviços à sociedade, por outro, os influencers têm se destacado por estabelecer conexões emocionais diretas com seus públicos.
No entanto, é crucial entender que as diferenças entre esses dois papéis permanecem claras: enquanto jornalistas têm a formação técnica, ética e a responsabilidade de informar com embasamento e imparcialidade, influencers muitas vezes operam com maior liberdade criativa e menos compromisso com critérios jornalísticos rigorosos.
No Brasil, um dos países que mais consome redes sociais no mundo, essa dinâmica tem criado desafios e oportunidades para o jornalismo. O relatório “Can Journalists Be Influencers?”, da Polis Journalism at LSE, oferece insights valiosos sobre como práticas do universo digital podem ser adaptadas pelo jornalismo, sem comprometer sua essência e credibilidade. Vamos explorar esses aprendizados com um olhar atento à realidade brasileira.
O jornalismo e o ambiente digital
Jornalistas têm migrado para plataformas digitais para alcançar novos públicos, especialmente os mais jovens, que consomem notícias diretamente por redes sociais como TikTok, Instagram e YouTube. Porém, ao contrário dos influencers, os jornalistas não podem abrir mão da ética, da apuração rigorosa e da veracidade das informações.
Segundo o relatório, iniciativas como o uso de redes sociais podem ser eficazes para engajar públicos que dificilmente consomem notícias tradicionais. Mas isso exige adaptações, como:
- Humanizar o conteúdo: Compartilhar bastidores, explicar o processo de apuração e trazer contexto acessível ajudam a aproximar o público sem comprometer a credibilidade.
- Plataformas certas para o público certo: Por exemplo, no Brasil, o TikTok tem sido uma ferramenta para educar sobre política e saúde pública, mas exige formatos dinâmicos e atrativos.
O que Influencers podem ensinar – e o que não podem substituir
Os influencers têm expertise em engajamento emocional, algo que pode inspirar novas abordagens no jornalismo. No entanto, é fundamental lembrar que:
- Influencers não são jornalistas: Eles operam em um espaço de opinião, entretenimento e experiências pessoais, enquanto jornalistas lidam com informações públicas, apuradas e factuais.
- Responsabilidade e impacto: Jornalistas têm o compromisso de informar com neutralidade, enquanto influencers podem ter suas mensagens moldadas por interesses pessoais ou comerciais.
Essa distinção é ainda mais importante no Brasil, onde o jornalismo enfrenta desafios como ataques à liberdade de imprensa e desinformação. Adotar práticas digitais não significa se afastar do papel crítico e ético do jornalista.
Como o Jornalismo Brasileiro pode aprender com o universo digital
No Brasil, a combinação de redes sociais com o jornalismo já tem mostrado resultados interessantes. O uso de vídeos curtos, interações em tempo real e linguagem acessível aproxima o público jovem de temas importantes. Mas o segredo está no equilíbrio:
- Manter o rigor técnico enquanto adapta formatos.
- Conquistar confiança com transparência sobre fontes e processos.
- Educar enquanto informa, tornando conteúdos complexos mais acessíveis sem perder a profundidade.
Reflexões para criadores de conteúdo no Terceiro Setor
A Candiá Produções, com sua expertise em comunicação para causas, entende que conectar mensagens ao público exige autenticidade, criatividade e clareza. Porém, o respeito às narrativas e ao compromisso ético, muito presente no jornalismo, é essencial. Inspirar-se no engajamento do digital não é o mesmo que sacrificar a profundidade e a verdade.
Influencers e jornalistas podem habitar o mesmo ambiente digital, mas desempenham papéis distintos. Enquanto o universo digital traz oportunidades para novas formas de comunicação, o jornalismo deve preservar sua essência como uma ferramenta indispensável para a democracia e a sociedade.
A verdadeira lição aqui não é sobre aproximação, mas sobre complementaridade: como usar o potencial das redes sociais para levar informação de qualidade e alcançar quem mais precisa.
Fontes:
Leinonen, Salla-Rosa. Can Journalists Be Influencers? How to engage hard-to-reach audiences on social media. Polis Journalism at LSE.
Estudos do Instituto Reuters sobre consumo de notícias digitais no Brasil.
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